Introdução – O Reino da Palavra entre nós

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Como são belos os pés do mensageiro que anuncia a Boa Nova: o Reino da Palavra está entre nós! Israel aguardava ansiosamente o cumprimento das promessas que Deus tinha feito. Estava esperando pelo Filho de Davi, o poderoso rei montado em um cavalo branco que, com seu braço forte, os libertaria de toda a opressão.
E eis que o tempo se cumpriu. Deus enviou seu Filho, o Rei dos reis, mas um tanto diferente do que Israel esperava. Ninguém entendia o que era ser um rei segundo Deus até que Cristo nos mostrou. Era realmente um mistério difícil de decifrar. Os judeus contemporâneos a Jesus, tinham um conceito equivocado sobre a missão do Messias que deveria reinar. Isso é demonstrado, por exemplo, no episódio da multiplicação dos pães, no qual queriam apoderar-se d’Ele para torná-Lo um rei que satisfizesse suas necessidades materiais e recuperasse a soberania de Israel sobre as outras nações.
A isso Nosso Senhor responde: «O meu reino não é deste mundo» (João 18, 36). Na mentalidade judaica, o padrão do rei é «semelhante ao das outras nações» (1 Samuel 8, 5). No entanto, Jesus Cristo, no conceito de rei que Ele nos ensina, é Ele mesmo o modelo de rei: «Sabeis que os reis dos povos os tiranizam e que os grandes os oprimem. Não será assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, seja vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Assim como o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos» (Mateus 20, 25-28).
Cristo torna-nos confidentes do seu segredo para compreender este mistério. Ele nos diz que para ser rei e entender o segredo desse reinado é necessário ser uma criança. C. S. Lewis ilustra isso muito bem nos livros de Nárnia: assim como os tronos de Cair Paravel são reservados apenas para crianças, assim também apenas para crianças é o Reino dos céus (Mateus 18, 3). Assim como somente Lúcia poderia entender os mistérios daquele mundo fantástico por sua franqueza e pureza infantis, assim Deus revela «estas coisas aos pequeninos» (Mateus 11, 25)
O reino de Cristo sempre foi difícil de aceitar porque, embora em seus ombros pese o principado e o poder, a honra e a majestade, também pesa uma cruz. Mas quem entenderia isso? Nem mesmo os discípulos de Cristo, os primeiros a serem ungidos reis, entendiam o que significava ser rei. Por isso discutiram qual deles seria o maior (Lucas 22, 24). Ou bem, pediram a Cristo para sentá-los um à sua direita e o outro à sua esquerda (Mateus 20, 20). Mesmo depois de ter ressuscitado, não compreenderam completamente: quando os discípulos de Emaús disseram ao Senhor que esperavam que Cristo restaurasse o Reino de Israel (cf. Lc 24, 13); ou quando, antes da ascensão, perguntaram a Jesus: «é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel?” (Atos 1, 6).
Para entendê-Lo, deviam tornar-se como crianças; mas também deviam ser como crianças para serem reis. O Senhor lhes diz que aquele que quer ser o maior deve ser o menor de todos; ou seja, uma criança. «Se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus» (Mateus 18, 3); ou seja, não são dignos de serem reis.
Quando Tiago e João pedem a Jesus o privilégio de sentar-se ao seu lado em seu Reino, Ele lhes pergunta: «Podeis vós beber o cálice que eu devo beber?” (Mateus 20, 22) É o cálice da sua paixão e morte, o cálice do seu sangue, o sangue da nova e eterna aliança. Através dele, sela uma aliança definitiva e faz-nos todos reis. Somente uma criança pode aceitar com a perfeita obediência de uma vontade submissa à palavra de seu pai: «Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua» (Mateus 26, 39b).
Também nós devemos passar pela entronização do Reino da Palavra, que começa no Gólgota e termina no Monte da Ascensão. Pois, como somos todos filhos no Filho, devemos herdar por direito esta coroa como era costume nas antigas linhagens reais. Porque o Sangue que foi «derramado por nós e por muitos» (Mateus 26, 28) corre em nossas veias, para que também nós possamos oferecê-lo «para o perdão dos pecados». Isto é, completar os sofrimentos de Cristo. Esse é o maior serviço que podemos oferecer como reis. É o serviço que Cristo veio prestar-nos: venho para servir, não para ser servido. E devemos fazer o mesmo porque o discípulo não é maior do que o mestre.
Meditamos neste livro sobre um grande mistério da Sagrada Escritura: Que tipo de Reino é este para o qual Cristo nos convida?