Deus fez de Adão o rei de toda a criação. Nos diz o salmo 8: «o fizeste pouco inferior aos anjos, de glória e de honra o coroaste; deste-lhe o mando sobre as obras das tuas mãos, sujeitaste todas as coisas debaixo de seus pés: todas as ovelhas e todos os bois e, além destes, os outros animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar: tudo o que percorre as veredas dos oceanos».
Sua missão como rei era «lavrar e cuidar da terra». A palavra no hebreu original עָבַד (avád) traduzida por «lavrar» significa também «servir ou servidor». Ou seja, a missão que Deus dá a Adão, o primeiro rei, é a mesma que Cristo dará a seus discípulos: «Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos» (Marcos 9,35).
Mas Adão, que deveria cuidar do seu reino, deixou que o usurpador, o antigo dragão, do trono se infiltrasse.
Tão pouco evitou que sua mulher falasse com o dragão, apesar de que «estava com ela», como nos diz o Gênesis. Talvez porque, escutando o dragão, como o fez Eva, também queria conhecer o bem e o mal e reinar não conforme a Deus, senão conforme sua própria vontade. Porque, segundo o dragão, com essa ciência seriam como Deus. Adão, pelo desejo de aumentar seu poder e grandeza como rei, cai na mesma armadilha na que todos os seus descendentes cairão depois dele: crer que para ser elevados devem sobrepor o orgulho à humildade, rejeitar a simplicidade de uma criança que confia só em seu Pai e confiar no inimigo do género humano.
Este princípio estabelecido por Deus que diz que «quem se enaltece é humilhado e quem se humilha é enaltecido» (Lucas 18,14) é paradoxo, mas não, ilógico. Trata-se de uma lei natural que o homem não pode ser pai sem antes ter sido filho.
Quem devia servir à mulher e protegê-la, não o faz. Despoja-se de sua autoridade, abdica sua coroa nas mãos de Satanás que, desde então, é chamado de «príncipe deste mundo».
Neste primeiro livro meditaremos sobre a criação: o reino que Deus havia estabelecido para reinar junto com o homem e a mulher.